Aonde tenho ido, por onde tenho andado, em tudo que tenho pensado, é sempre a mesma constatação: as pessoas estão infelizes.
Posso já ouvir alguém dizer: sim, mas isso não é nenhuma novidade!
Tudo bem, concordo, mesmo porque “ser infeliz” passou a ser o natural dos seres humanos. O mal estar físico, a depressão, a fé vacilante, a manutenção dos vícios morais, a incapacidade de estabelecer ou (re)construir as relações de amor com o próximo e a falta de coragem para perseguir (ou até mesmo sonhar) um objetivo profissional é hoje o comum. O contrário disso é “ser feliz”. E isso parece não estar ao nosso alcance.
Por tudo o que vejo, ouço e sinto...
As pessoas estão infelizes fisicamente.
As pessoas estão infelizes psicologicamente.
As pessoas estão infelizes espiritualmente.
As pessoas estão infelizes moralmente.
As pessoas estão infelizes amorosamente.
As pessoas estão infelizes profissional e financeiramente.
Com, ao menos, um desses seis aspectos, certamente, podemos nos identificar. E isso não constitui mal algum. A felicidade completa, em sua totalidade, já me foi dito que constitui um aspecto “irrealis”. Não estou questionando isso! Estou apenas pensando (e muito preocupada) em como as porções de infelicidade tem sido mais saboreadas e muito mais prolongadas do que as de felicidade. E isso, caros amigos, me faz pensar que o sentido da vida esteja sendo contrariado ou que viver não esteja fazendo sentido algum.
Por tudo o que vejo, ouço e sinto...
O natural hoje não é priorizar a leveza da vida ou lutar para que ela se torne o mais leve possível. Estamos priorizando os aspectos que não estão indo bem em nossas vidas, destinando-lhes atenção e energia dobradas, triplicadas... Deveríamos fazer isso para sermos mais leves e, por consequência, mais felizes. No entanto, temos priorizado esses aspectos como um fardo. A vida tem se tornado cada vez mais “pesada”. E nos acostumamos a isso. E prosseguimos com isso. E estamos tontos, em declínio, de um lado para o outro, carregando o nosso fardo, sem saber se há algum sentido em viver.
E infelizes, vamos ao médico e ao psicólogo. E vamos às casas de orações. E lemos e (re)lemos os livros de auto-ajuda. E decidimos por viver um amor frustrado, que se concretizou ou não, o resto da vida; ou decidimos casar com quem simplesmente não amamos; ou se ajeitar aqui ou ali com um certo alguém sem saber o porquê. E mudamos de emprego. E mudamos de objetivo profissional. E estudamos mais para obter mais títulos e títulos. E mudamos de cidade. E corremos atrás de mais e mais dinheiro.... E... E.... e... e... e... e.... e.... e....
E nada. E a vida continua vazia. E continuamos infelizes.
Saboreamos até nessas escapadas, nessas tentativas de fugas, uma dose de felicidade.
Sentimos, por um instante, a leveza da vida, ou algum sentido em estar vivo.
Mas é só isso!
E o que fazer? Ninguém agüenta mais. Ninguém suporta mais estar vivo e não vê sentido em viver.
Por tudo o que vejo, ouço, sinto, e VERDADEIRAMENTE acredito...
A felicidade precisa se fazer presente, primeiramente, em nós. Os ditos “fardos” da vida (a dor que não passa; a angústia e tristeza que te leva ao psicólogo; o amor que não foi e não é correspondido; o dinheiro que não tem; e o emprego que não corresponde ao que foi sonhado) precisam ser encarados como educativos, e não como punitivos. É preciso um certo esforço para não sofrermos por eles, mas crescermos com eles.
A felicidade também pode ser construída pela presença do Outro. Estreitemos as relações humanas. Não ignoremos a presença do Outro – olhemos nos seus olhos, apertemos a sua mão, não dificultemos o abraço e o beijo, nos façamos presentes, não apenas virtualmente. Deixemos um pouco de lado os nossos ditos “fardos” e direcionemos um pouco mais de atenção ao Outro, a um Outro próximo e distante. O nosso “fardo” passa a ser mais leve também quando somos menos egoístas e prestamos atenção ao próximo. É preciso praticar a doação. Mas falo de doação humana. E quero com isto dizer que doemos amor, atenção, fé, educação, força de vontade e tudo que seja necessário para que vejamos algum sentido na vida (na nossa e na dos outros).
Quem sabe, assim, comecemos a atuar VERDADEIRAMENTE em sentido contrário ao da infelicidade e saibamos por que e para que é preciso viver.
E, talvez, daqui a um ano, ser feliz seja o nosso natural!
E eu possa ter como título do texto “por que estamos tão felizes?”